DESCORTINANDO MISS DAISY

Uma obra à parte na filmografia sobre o racismo nos Estados Unidos, Conduzindo Miss Daisy será exibido nessa sexta-feira, dia 28 de novembro, no auditório da Vila das Artes. Se você ainda não assistiu a esse filme, e muito menos ouviu falar de Jéssica Tandy, não se desespere: nosso Eduardo Pereira, um dos maiores cinéfilos desses brasis, desvendará todos os segredos dessa pequena pérola lançada há quase trinta anos
 
Morgan Freeman, Jássica Tandy e Dan Aykroyd: estória de racismo velado, eivado de cordialidade do sul estadunidense é o mote de Conduzindo Miss Daisy

Por Eduardo Pereira

A primeira vez que assisti ao filme Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, EUA, 1989), tive a impressão que via um filme que se constrói pelas lindas e tocantes atuações do casal de idosos  representado por Jéssica Tandy (oitenta anos, à época) e Morgan Freeman - apenas 52 anos em 1989, mas envelhecido por sofisticada maquiagem artística. Assistindo-o novamente, pouco tempo atrás, minha opinião apenas se solidificou. 

A princípio, o filme centra seu enredo na construção da amizade improvável entre uma senhora judia excêntrica e teimosa, miss Daisy Werthan (Jéssica Tandy, em atuação digna de Oscar) e Hoke Colburn (Morgan Freeman, dando show), que é contratado por "Bollie" (Dan Aykroyd, ator de comédias), filho de Daisy e administrador dos negócios da família, após um acidente envolvendo a idosa, tão logo ela inaugura seu novo carro. 

O filme é ambientado em Atlanta, Sul dos Estados Unidos. Daí sentirmos o clima carregado do racismo arraigado nessa parte dos EUA. Apesar disso, o diretor australiano Bruce Beresford consegue imprimir uma direção que se reflete na maneira sutil como ele aborda a estória de amor e ódio entre duas pessoas a princípio apartadas pelo fato de pertencerem a duas "raças" distintas  - fato às vezes criticado como forma de não colocar o racismo de fato em pauta. Tal amizade, com pitadas da cordialidade que conhecemos tão bem, é construída ao longo das duas décadas nas quais Hoke serve a família Werthan - e que é demonstrada com doses generosas de maquiagem, que indicador externo da mudança de tempo. 

O filme não traz um discurso panfletário contra o racismo, mas nos leva a entender como é possível que sentimentos como a amizade e o amor possam surgir entre pessoas a princípio tão diferentes entre si. Ao final, as ótimas sequências (destaque para a última de todas, de molhar os olhos!) provam que bons filmes têm que refletir sentimentos verdadeiros - ainda que encenados - ao público. 

O roteiro do longa foi adaptado diretamente da peça homônima de Alfred Uhry, que assina o guião. O interessante é que, no roteiro cinematográfico, Uhry criou a personagem Florine Werthan (Patti Lu Pone), a nora que Daisy jamais pediria a Deus.Outra curiosidade - esta reveladora - é que a peça foi baseada na estória real da amizade desenvolvida entre a avó do autor e um motorista negro. 

A mais idosa atriz a vencer um Oscar, Jéssica Tandy dá um show como a judia preconceituosa que encarna em Conduzindo Miss Daisy
A trilha musical, outro show à parte, foi composta pelo alemão Hans Zimmer, usando apenas teclados e sintetizadores. Ele assinara a trilha de Rain Man (1988), pela qual fora indicado ao Oscar. 

Mesmo após mais de duas décadas do seu lançamento, os 99 minutos de Conduzindo Miss Daisy são de uma delicadeza impressionante, expressa nas atuações, na direção sutil, no texto leve, mas não displicente e em outros elementos que lhe deram uma coerência impressionante para a Academia. Isso explica as nove indicações ao Oscar que o filme recebeu (levando três estatuetas na edição do evento de 1990), incluso uma mais que justa nomeação para Jéssica Tandy, que se tornou a mais velha atriz a receber o prêmio, emoção que pode ser percebida em seu discurso de agradecimento, após receber o troféu dourado das mãos de um idoso Gregory Peck: "Estou nas nuvens, agora". Estaria pouco tempo depois, mas sempre brilhará em nossos corações.  

Coduzindo Miss Daisy será exibido nessa sexta-feira, dia 28 de novembro, na Vila das Artes - Rua 24 de Maio, 1221, Centro -, a partir das 18h30 min.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NOVE E MEIA SEMANAS DE AMOR - Erotismo à lá anos 1980

EU – Walter Hugo Khouri em Grande Estilo

ENTREVISTA - Hanna Korich e Laura Bacellar