Um faroeste bem coreano




 Homenagem ao clássico de Sergio Leoni Os Invencíveis será exibido hoje, na Vila das Artes, dentro da mostra de setembro do Grupo 24 Quadros, dedicada ao cinema sul-coreano contemporâneo


Os invencíveis: homenagem bem-humorada ao western spaghetti


Por Eduardo Pereira
 
Corria o ano de 1966 e o público ao redor do mundo se deslumbrava com o filme Três em Homens em conflito (Il buono, il brutto e il cattivo, ITA/ESP, 1966), do então jovem diretor Sergio Leoni (1929-1989). O longa marcava o final da trilogia dos dólares, que rendeu ao italiano o titulo de cineasta que ressuscitou o western. Isso só ocorreu porque Sergio se valeu de um roteiro onde ação e tensão foram muito bem equilibrados, levando as atuações dos protagonistas a níveis de qualidade nunca antes alcançados nesse tipo de filme.


A trilogia dos dólares inspirou muitos cineastas mundo afora a criarem filmes que tentaram trazer esse clima, mas poucos lograram êxito na empreitada. Leoni, na verdade, criou algo tão particular, em seu modo de conceber filmes, que tentar imita-lo era mesmo muito difícil. Entretanto, em 2008, o jovem cineasta sul-coreano Jeen-Woo Kim inspirou-se no último filme da trilogia dos dólares para realizar Os Invencíveis (Joheunnom  nabbeunnom isanghannom, KOR, 2008). Jeem-Woon em seu remake, não apenas nos traz o clima e os elementos criados por Leoni; na verdade, ele concebe outra obra fílmica, que, em certos aspectos, se distancia do filme original. Isso fica claro quando no tom cômico e nas cenas hilárias desse longa coreano, bem diferente da película original que lhe inspirou, a qual dá ênfase numa trama mais seria e dramática. Outro ponto alto de Os Invencíveis são as cenas de ação bem elaboradas e acrobáticas, bem no estilo de filmes de artes marciais chineses. O diretor ambienta o filme nos anos 1930, na Manchúria, cenário de disputa territorial entre coreanos e japoneses.


De fato, Jeen-Woo, não só faz uma homenagem ao cinema de Leoni, como utiliza a trama do filme como um trampolim, para experimentar, com muita consciência, artifícios narrativos que causam no espectador surpresas que um filme clássico de faroeste não costuma provocar. Ao utilizar o cômico, a ação de filmes de artes marciais chineses a tensão e a estilização da violência criada pelo cineasta estadunidense Sam Peckinpah (1925-1984), o poeta da violência no cinema contemporâneo, Woo nos leva aos limites que o gênero pode suporta e ao mesmo tempo consegue criar e traçar um possível caminho para a revitalização do western, muitas vezes declarado morto.  

A fotografia super-colorida incendeia o filme, ao acentuar as situações cômicas encenadas. A interpretação dos atores é tão bem estruturada, que supera muito os clichês das personagens que todos conhecemos dos filmes de faroeste. Jeen-Woo, ao fazer esse filme, apenas provou que fazer algo de novo, com um gênero meio deixado de lado, é possível, só bastando a criatividade, a consciência do que se quer fazer e, principalmente, ter em vista que o filme cumpra a função de entreter, tornando-se especial para o público. E isso Os Invencíveis faz muito bem.      
 

  

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