Tentando Desvedar Stephen King

 Como assim? Homenagem à Stephen King? Sim, senhor! Nesse mês de agosto o Grupo 24 Quadros dedica sua programação ao mestre da literatura de horror e um ícones da cultura pop nas últimas décadas. No texto do nosso colaborador Eduardo Pereira, você pode saber um pouco mais sobre esse hoje provecto artista que, através dos seus livros e dos filmes e seriados de televisão neles inspirados, assustou e assusta gerações de fãs. A mostra Stephen King no cinema ocorre entre os dias 1 e 29 de agosto, todas as sextas-feiras, na Vila das Artes 

O jovem Stephen King com sua ferramenta de trabalho. O escritor e roteirista é o homenageado do Grupo 24 Quadros presta nesse mês de agosto 
 
 Por Eduardo Pereira



Nascido em 1947, Stephen Edwin King fez parte do que se denominou, na sociedade norte-americana, como Baby Boom (geração nascida após o fim da Segunda Guerra Mundial) e cresceu numa América que pregava um patriotismo exacerbado e onde se podia acreditar, com a máxima certeza, que somente estadunidense podia alcançar as grandes vitorias em todos os campos do conhecimento ou mesmo nas guerras que viriam.

Stephen tinha em casa todas as quinquilharias modernas do seu tempo, como aspirador de pó, geladeira, rádio e aparelho de TV. Este último seria muito importante para a formação do futuro escritor porque, ao lado do cinema, dos quadrinhos e dos livros de ficção científica, a televisão foi uma grande influência na vida do pequeno Stephen. Em resumo, pode-se afirmar que King foi “bombardeado” pela cultura pop em seu estado embrionário e, diferente de muitos que apenas foram passivamente tomados por esta, ele conseguiu apreender e aplicar a mecânica criativa inserida em filmes, tele-seriados, quadrinhos e muitos outros produtos da também nascente indústria cultural da década de 50 do século passado.  

Porém, mesmo lendo e assistindo a diversos produtos fabricados por essa indústria de entretenimento barato estadunidense, seu interesse principal era voltado ao que se ligava de alguma forma ao horror, um gênero ainda obscuro e que não gozava de muito prestigio entre a elitista e conservadora sociedade norte-americana dos anos 1950. Stephen era obcecado por quadrinhos de terror, assim como por seriados que tivessem ou tratassem de algum elemento de terror em sua concepção e, principalmente, por filmes B de ficção cientifica e terror, os quais via em pequenos cinemas da sua Portland natal ou nas demais cidades pelas quais passou com sua mãe e seu irmão adotivo, abandonados por seu pai quando ele contava apenas dois anos. 

O tempo foi passando, o garoto foi se transformando num adolescente calmo (embora um tanto esquisito) e depois num jovem que almejava escrever livros de horror. Mas a tarefa não seria fácil. Começou a escrever ainda na escola e numa pequena publicação estudantil da Universidade do Maine, posteriormente colaborando com pequenas publicações que ajudavam no custeio dos estudos e ao mesmo tempo em que elaborava o manuscrito de “Carrie a estranha”, finalizado no inicio de 1970. Com a ajuda de um agente, conseguiu publicar o livro em 1974, pela editora Doubleday, sob os auspícios do editor Bill Thompson. Thompson ficou surpreso com o ritmo da narração, com a elaboração psicológica dos personagens e como King conseguia criar um clima onde o horror e o suspense estavam bem dosados, para alcançar com isso níveis de tensão que eram sentidos pelo leitor.

O primeiro romance já mostrava que King, não era um escritor qualquer e sim um artista que veio para sofisticar o gênero de horror, ao transformar seus livros em verdadeiros laboratórios de experiências narrativas onde injetava elementos de terror extraídos de programas de TV e rádio, romances, quadrinhos e tudo o que tivera como influência na juventude relacionada ao gênero. A partir disso, ele adotou procedimentos fundamentais para o entendimento da sua obra: o horror explícito, onde uma cena macabra ganha funcionalidade, envolvendo a atenção do espectador; e o tratamento do horror como uma arte imbuída de ir além do puro visual, para encontrar o que King denominou de pressão fóbica, onde a obra consegue jogar com os temores que afligem um vasto número de pessoas. 


Mr. Terror. Stephen King não não queria apenas imagens fortes, mas o que ele próprio definia como pressão fóbica, em relação aos leitores


King procura, através da sua obra, unir a cenas de torturas, assassinatos, castigos, fantasia e sobrenatural, ações cotidianas, que qualquer pessoa pratica no seu dia-a-dia. Seu terror mostrou para outros escritores que na verdade a solução está em saber dosar a realidade e o imaginário, oferecendo no fim uma obra de terror pop, que possa cumprir o seu papel de entreter o leitor, que procura nestes livros a sensação de medo que tanto o satisfaz.

As obras de King adaptadas para cinema apenas reforçam que a buscar pelo estado de tensão é a grande solução para conduzir o espectador a entrar no jogo do filme, para enfim tomar aquele susto que satisfaz quem pagou para assistir a um filme com a marca e alma do MESTRE DO HORROR MODERNO: STEPHEN KING.
 
  
    


 


   


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