A FACE OCULTA: O FAROESTE CULT DE UM GÊNIO.
Paixão, mortes trágicas, encontro de gênios. Não, esse não é mais um dos enredos de filmes água com bolacha de sal, mas a única obra cinematográfica cuja direção foi assinada por Mr. Brando. A Face Oculta é um filme tão interessante quanto as lendas que o cercam, arroladas em mínimos detalhes no texto assinado por Pierre Grangeiro para o blog do Grupo 24 Quadros, que dedica o mês de julho a um dos deuses do cinema moderno. A mostra Eternamente Brando tem lugar na Vila das artes, durante todo o mês de julho
Encontro de gênios: Marlon Brando e Stanley Kubrick. Não deu para os dois trabalharem juntos. Imagina qual teria sido o resultado?
Por Pierre Grangeiro
Baseado no romance The
Authentic Death of Hendry Jones, escrito por Charles Neider, e
sendo uma das produções mais tumultuadas de todos os tempos, A Face Oculta (One
Eyed Jacks, EUA, 1961) se tornou um filme único por vários motivos.
Em primeiro lugar, trata-se do único dirigido por Marlon Brando,
o ator mais emblemático do cinema norte-americano. Outro aspecto interessantíssimo
é que poderia ter sido o encontro de dois dos maiores gênios do cinema
mundial: Stanley Kubrick, que começou a dirigi-lo e um estreante roteirista
de nome Sam Peckinpah, demitido bem no começo das filmagens.
Da parte de Kubrick, o que mais chama atenção é que esse seria o único
faroeste da galeria do fantástico diretor, que trafegou pela maioria
dos gêneros cinematográficos com uma marca autoral e brilhante.
Feito em um dos períodos
mais turbulentos da vida de Marlon Brando, que estava envolvido em processos
judiciais, um casamento problemático e inúmeras amantes, além do
fato dele não estar mais no seu período áureo (o que foi constatado
nos fracassos retumbantes de bilheteria vistos em películas anteriores)
esse filme demorou quatro anos para ser concluído. Nesse ínterim,
houve estouro de orçamento e filmagens que passaram dos programados
60 dias para nada mais, nada menos, que 180. Fora tudo isso, esse
filme marca uma das várias tragédias envolvendo a vida de Brando,
pois a atriz principal (a mexicana Pina Pellicer) realmente se apaixonou
pelo ator e pouco depois do filme se suicidou, o que levou muitos a
especularem que o fracasso na relação foi o grande motivo desse ato.
O certo é que a produção foi mais um fracasso de crítica e público
da carreira de Marlon Brando, que afirmou que jamais voltaria a dirigir
um filme novamente, o que de fato ocorreu.
A história se passa
no ano de 1880, em Sonora, no México, onde dois assaltantes depois
de um roubo a um banco fogem e são cercados pela polícia local. Um
deles, Dad Longworth ( o excelente Karl Madden) vai procurar ajuda
e deixa o amigo Rio (interpretado pelo próprio Brando) esperando.
Dad abandona Rio, que é aprisionado, mas jura para si mesmo que vai
se vingar do traidor que o deixou na mão. A partir da fuga de Rio da
prisão vai haver o velho embate entre o mocinho e o bandido. No caso
aqui Dad se torna um renomado xerife, que agora está casado e tem uma
linda enteada - Luísa, que acaba se entregando ao sedutor Rio.
Com um final bastante
convencional, já que o pretendido por Brando seria muito mais trágico
e a produtora Paramount não aceitou, o longa foi entregue com uma média
de cinco horas de duração, o que foi totalmente rejeitado. Depois
de um longo processo de edição e várias complicações técnicas,
finalmente a cópia que foi aos cinemas teve pouco mais de duas horas.
Para Brando o filme foi um verdadeiro desastre na sua carreira, e seu
desinteresse pelo cinema só passaria a aumentar a partir daí.
Mesmo com todos os problemas
explanados, o filme tem várias qualidades e é uma daquelas obras que
crescem a cada revisão. O roteiro clichê é muito bem trabalhado,
e a montagem com ritmo lento só serve para engrandecer o filme. As
ótimas interpretações, principalmente dos dois atores principais
é outro grande achado. Marlon Brando já beirando os 35 anos está
mais belo e enigmático do que nunca, e suas falas mostram toda a contradição
e carisma do seu personagem. A marcante fotografia aliada a uma estupenda
trilha sonora também reforçam o clima estranho desse faroeste de transição,
já que foi feito justamente no período em que o gênero estava em
queda nos EUA, mas se reinventando no mercado europeu (principalmente
na Itália, com Western Spaguetti).
Por tudo isso A Face
Oculta deve ser apreciado por todos os cinéfilos, e merece com todas
as letras o status de obra cult.
Confira o trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=tX1FySnIfC0
O filme A Face Oculta será exibido nessa sexta-feira, dia 18 de julho de 2014, dentro da mostra Eternamente Brando, que ocorre durante todo o mês na Vila das artes
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