Sobre Amor à primeira vista



Amor à primeira vista: um pequeno filme de um grande elenco

O clima é nostálgico. Tudo lembra uma antiga telenovela: a maquiagem, os cortes de cabelo, a trilha musical - com uma overdose de arranjos de teclado. E, para melhorar o negócio, a história começa na gelada Nova York às vésperas do Natal. Nada mais romântico e inspirador. 

Que atire a primeira pedra quem nunca idealizou um cenário assim para se apaixonar. Até casais brasileiros de novela das oito já peruaram pela capital do mundo - que o digam a malévola Raquel e o bobo Marcos, os recém-casados de Mulheres de areia (1993) -, com direito à Let it be me (Ouriel version) como background. 

Mas estamos falando de um filme, mais um filme de amor, não fosse um detalhe: um casal de atores fora de série vive as personagens principais. Se Amor à primeira vista (Falling in love, EUA, 1984) soa datado da primeira à última sequência (destaque para a cena em que a personagem de Meryl Streep experimenta cafonérrimas ombreiras), este não deixa de ser um trabalho curioso, quando se leva em consideração o elenco estrelar (mesmo) que figura nos seus créditos. Só do cast de Taxi Driver há Robert de Niro e Harvey Keitel, em modesta participação. Há ainda Diane Wiest, a irresistível vendedora de Edward mãos de tesoura e, claro, Meryl Streep, que dispensa quaisquer apresentações. 

O enredo, como se pode imaginar, não é dos mais originais. Um engenheiro e uma artista gráfica esbarram-se por acidente numa livraria onde faziam as compras de Natal. Em meio à divertida confusão de pacotes, eles trocam, por engano, os livros que haviam comprado para os respectivos cônjuges - sim, ambos são casados, e imagine o que adultério significa nos Estados Unidos da era Reagan e em pleno yuppismo, o contexto histórico do filme! Eis um bom motivo para que, ao se reencontrarem, algum tempo depois, na estação de metrô, encetem uma amizade que redundará em namoro. Claro, há sinais que isso não terminará bem, assim como a amiga confidente, o beijo quase roubado quando tudo já parece um pouco morno, a inocência inicial do marido e da esposa traídos, os momentos de dúvida permeados por choro e tudo o mais que uma boa love story convencional pede. Mas isso não é ruim. Aliás, quem consegue prender a atenção do espectador utilizando-se dos códigos consagrados pode ser tudo, menos alguém que não saiba o que está fazendo. E o melhor de tudo é perceber que é possível, sim, oferecer "algo mais" do mesmo, o que só se pode esperar de grandes atores. Meryl está longe de ser uma mocinha entediante de folhetim mal-feito e De Niro, apesar de não ostentar todos os seus recursos dramáticos, exerce com muita competência seu papel. 

Por trás desse drama tão rotineiro quanto banal está Ulu Grosbard (1929-2012), um homem de teatro, duas vezes indicado ao Tony (distinção máxima do teatro norte-americano), de filmografia pequena e insignificante mas que, pelo visto, sabia escolher a dedo seu cast de atores. Entretanto, suas limitações enquanto diretor de cinema são notórias em filmes como Amor à primeira vista, onde, não obstante tudo se encaixe como manda o figurino, fica a sensação de que falta algo, quiçá tão simples quanto o próprio roteiro do longa, mas não tão simples e eficaz quanto a atuação do elenco principal. Ser simples (bom, sem exageros), aliás, em meio à fogueira de vaidades do mundo da sétima arte, não é coisa para qualquer um. 

Gabriel Petter

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Petter,
    Às vezes tenho caído no erro de valorar o conteúdo de certas obras pelo seu título; já tenho quebrado a cara, é bem da verdade. Com relação a esse filme, imagino tratar-se romance meio meloso... Pelo que entendi do seu comentário, não o é, não obstante a força da presença desses dois monstros sagrados do cinema que farão o par romântico...
    É por aí...

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  3. Este é um típico exemplo de um filme de atores. A direção não foi boa o suficiente para tirar melhor do excelente elenco, mas, ainda assim, o filme não entedia, mesmo porque o trabalho do cast - principal e secundário - é perfeito.

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