A louca corrida do ouro: bang bang trash
O faroeste, um dos gêneros mais tradicionais da história do cinema norte americano - só para se ter uma idéia, o primeiro curta e o primeiro longa rodados na então recém-nascida Hollywood eram westerns - alimentou o imaginário de muitos cinéfilos ao longo das décadas em que ele se fixou entre os mais populares da indústria cinematográfica americana - conhecendo vertiginosa queda a partir da segunda metade do século passado. Fica difícil dissociar o bang bang de figuras másculas como Lee Marvin ou o fascinante John Wayne, de ambientes inóspitos, desérticos e calorentos, e de belas mulheres, como a estonteante Claudia Cardinale e outras beldades que só ajudam a caracterizar o western como um gênero "másculo" por excelência.
Divine, a "mocinha" de A louca corrida do ouro
John Wayne deve ter se revirado no túmulo quando surgiu A louca corrida do ouro (Lust in the Dust, EUA, 1985), avacalhação explícita com o faroeste capitaneado pelo diretor Paul Batel (1938-2000), que estava então dirigindo mais um dos vários low budget films de sua carreira, e estrelado por um elenco que pode ser qualificado, sem nenhuma conotação preconceituosa, como queer - com destaque para a grotesca Divine (1945-1988) no papel da mocinha do filme, que ainda conta com Cesar Romero (1907-1994) e Tab Hunter, decadente astro teen dos anos 1950, que vive o par romântico da personagem de Divine na trama.
A respeito desta, nem é preciso dizer que é absurda, mas extremamente divertida. Ponto para o roteiro bem amarrado, como muitas referências aos western spaghetti que tinham estourado mundo afora entre as décadas de 1960 e 1970 e para o elenco, que consegue segurar um filme aparentemente vergonhoso na carreira de qualquer ator que se preze com bom senso de humor. A época favorecia. Estamos falando dos anos 1980, que conheceriam, paralelamente a alguns dos mais perfeitos blockbusters que a indústria cinematográfica estaduniense nos legou, filmes grotescos, mas de imenso apelo popular, como Porky's (Porky's, EUA, 1982). É escusado dizer que filme como A louca corrida do ouro devem ser vistos com o espírito crítico suspenso, ou não, a depender do grau de sofisticação do expectador. Porque, se é preciso ser bom para se fazer um bom filme ruim, é imperativo que o expectador tenha sensibilidade e capacidade de vislumbrar o que produções como esta significam no universo da indústria cultural, bem como percebê-las num contexto de apreciação estética radicalmente distinto daquele que herdamos ainda antes de termos consciência de nós mesmos enquanto sujeitos deste mundo.
Assistir à Louca Corrida do ouro, de uma forma ou de outra, significa gozar de uma experiência divertida e irresistível. O filme é tão ruim que acaba sendo bom. E, como um acréscimo às podrices que vemos em tela, o áudio do DVD lançado no Brasil é terrível e a película toda é dublada, sem possibilidade de acessar o áudio original. Mais trash impossível.
A louca corrida do ouro será exibido nessa sexta-feira, dia 20 de julho, na Vila das Artes, dentro da mostra dedicada ao cinema trash, durante todo este mês. A sessão começa às 18h30min. Rua 244 de Maio, 1221, Centro.
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