Novos realizadores: Gabriela Pichler

A sueca de origem eslava é um dos novos nomes da cena audiovisual da Suécia, país que legou ao mundo da sétima arte nomes como o de Ingmar Bergman e que já foi um dos grandes centros produtores do continente europeu. Não obstante sua reconhecida qualidade de vida e nível de desenvolvimento econômico, o pequeno país escandinavo ainda apresenta uma estrutura de classes típica de qualquer país capitalista e uma marcante discriminação contra imigrantes estrangeiros. O desemprego e a falta de perspectivas são os principais temas do seu filme de estréia, Eat, Sleep, Die, que aborda os dilemas de uma jovem desempregada. Gabriela, que exibiu seu filme no segundo Festival Internacional de Cinema de Brasília, concedeu a seguinte entrevista ao blog do Grupo 24 Quadros


Gabriela Pichler


24 Quadros: Eu lí que você trabalhou em uma fábrica antes de se tornar cineasta. Como foi essa experiência e qual influência ela teve na sua visão de mundo enquanto mulher e artista?

Gabriela: Trabalhei numa fábrica de biscoitos, onde eu trabalhava produzindo os pacotes de biscoitos. Eu comecei a trabalhar lá aos 19 anos, ao mesmo tempo em que fazia meu próprio aprendizado sobre filmes, até os 25 anos, quando fui à Escola de Cinema para me tornar uma diretora. Para mim era muito natural trabalhar numa fábrica porque meus pais trabalharam em fábricas e eu gastei muito tempo, quando era criança, esperando meus pais, enquanto eles trabalhavam. Mas pra mim era um problema que nos filmes suecos você raramente visse autênticas histórias de trabalhadores ou pessoas trabalhando de verdade. É como se uma parte da sociedade não existisse quando se tratava de filmes e eu queria mudar isto. 

24 Quadros: Lendo sua biografia e matérias a respeito do seu filme, percebi que há muita semelhança entre você e a personagem principal de Eat, Sleep, Die. Quais são os elementos autobiográficos contidos no seu filme?

Gabriela: Bom, a história em si é ficcional, não autobiográfica, mas várias situações no filme, as pessoas e os ambientes, são altamente inspirados na minha própria vida. Por exemplo: as cenas com Raša indo com seu pai ao médico. Isto é algo que eu vivi frequentemente com minha mãe. Ela é originária da Bósnia, trabalhou arduamente, até que seu corpo não aguentasse, e ela passou a lutar contra fortes dores. Frequentemente os médicos trataram-na como uma pessoa de segunda classe, tanto por ela ser uma imigrante como uma mulher da classe trabalhadora. Frequentemente aqueles encontros com diferentes médicos foram humilhantes e frustrantes e houveram muitas coisas que eu desejei ter podido dizer e fazer, ao invés de me sentir pequena e impotente. 

24 Quadros: Seu filme pode ser considerado como um retrato do atual contexto europeu, marcado por uma grande crise financeira e por um grande contingente de imigrantes, alvo de movimentos racistas? Por outro lado, o seu filme pode ser lido como uma espécie de microcosmo dessa situação geral? Qual é o tema principal de Eat, Sleep, Die?

Gabriela: Sim, em vários sentidos. A Suécia e a Europa estão mudando e precisamos lutar contra estes movimentos de caráter racistas que estão crescendo por toda a Europa. Eles frequentemente crescem e focando as diferenças entre as pessoas, ao invés das suas semelhanças. E pra mim era importante que o meu filme mostrasse essas semelhanças. Todos os personagens, apesar das suas diferenças étnicas, lutam contra o mesmo problema. Eles são trabalhadores sem emprego, colocados em segundo plano pela sociedade. 

24 Quadros: Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou para realizar o seu primeiro longa-metragem?

Gabriela: O constante stress e ser capaz de me colocar além dos meus próprios limites. 

Entrevista conduzida e traduzida por Gabriel Petter

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