A Hora do Pesadelo: a criação de um ícone

Abrindo a mostra dedicada aos cult movies da década de 1980, começamos com o deliciosamente podre "A Hora do Pesadelo", que legou ao imaginário ocidental a figura ao mesmo tempo cômica e horripilante de Freddy Krueger. Em texto assinado por Pierre Grangeiro, apreciamos mais um pouco dessa pérola da "década perdida" e podemos vislumbrar o porquê do culto dedicado à franquia, 30 anos passados do seu lançamento

O icônico Freddy Krueger acabará com sua noite de sexta-feira, dia 3 de outubro, na Vila das Artes


Por Pierre Grangeiro

Existem momentos na história humana em que alguns símbolos representam tanto a época em que foram criados que, mesmo passadas décadas e sucedidas velhas gerações, sua força permanece, residindo no fato de apresentar as peculiaridades daquele período. Só para exemplificar: é impossível compreender a importância de atores como James Dean e/ou Marilyn Monroe caso não analisemos as transformações socioculturais vividas na década de 1950, assim como um estudo sério sobre os anos sessenta jamais poderá ignorar a beatlemania. 

A década de 1980 foi a era dos blockbusters de Steven Spielberg e cia., da ascensão da MTV e da chegada aos cinemas de um dos maiores ícones dos horror movies: o carismático e assustador Freddy Krueger. Considerado um dos maiores personagens jamais criados na mitologia do horror, sua estreia ocorreu há cerca de 30 anos, no espetacular A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, EUA, 1984).

Fruto da mente do roteirista e filmakker Wes Craven, o filme se tornou fenômeno pop, gerando uma das mais rentáveis franquias da história de Hollywood. Foram seis boas continuações, que não ofuscaram, porém, o brilho do original, além da paródia trash Freddy versus Jason. Isso para não falar de um sofrível remake lançado em 2010 e felizmente já esquecido. 

O mais interessante é que o enredo do filme se baseia em fatos reais. Craven foi inspirado pela notícia da morte de crianças cambojanas durante o sono, após dura resistência em dormir das mesmas, apavoradas que estavam com terríveis pesadelos. Esse drama - que até hoje não tem explicação médica - chocou Craven. Para construir a imagem do assassino dos pesadelos, ele se lembrou de um mendigo com cara de mau que o amedrontou durante a infância, trauma que jamais deixou sua mente. 

Cartaz do filme, lançado em 1984: quem conseguiu dormir em paz desde então?

A estória se passa na fictícia cidade de Springwood, onde quatro adolescentes passam a ter o mesmo pesadelo com um homem de pele queimada, usando suéter listrado, um chapéu puído e longas lâminas nas mãos. Tudo se torna mais dramático quando esses mesmos adolescentes são mortos durante o sono, gerando uma intrincada investigação policial. A única sobrevivente é Nancy, que passa a investigar o passado do monstro, começando a entender os motivos que o levaram a matar seus amigos. Na verdade, a terrível criatura, chamada Freddy Krueger, havia sido assassinada depois que os moradores da cidade atearam fogo nele, logo que descobriram que ele era um pssicopata responsável pelo assassinato de 20 crianças. A partir de então, Freddy se torna num ser demoníaco que quer se vingar a todo custo daqueles que lhe tiraram a vida. 

Algumas cenas são bastante emblemáticas e já entraram nas antologias dos horror movies, como a primeira aparição de Freddy, logo no início do filme, gerando um clima de medo e tensão, além dos cruéis assassinatos, todos repletos de sangue. O final ambíguo, proposto pelo chefe da New Line Studios, já sugere uma continuação, o que desagravou bastante Craven, que só aceitaria dirigir outro filme da sequência dez anos depois, justamente em seu episódio final. 

Com elenco composto por vários jovens atores em início de carreira, como Johnny Deep (que renega o filme em sua carreira), o longa conta também com veteranos como John Saxon, além do extraordinário Robert Englund, que imortalizou o vilão Freddy. Além dos irretocáveis roteiro e direção, uma das maiores qualidades do filme é sua sombria trilha sonora, composta a cargo de Charles Bernstein, servindo de modelo a diversos scores de outros filmes do gênero. 

Produzido pela New Line Cinema, o filme custou a bagatela de U$$ 1,8 milhões, faturando, só nos EUA, U$$ 25 milhões em bilheteria. Febre da era do VHS, o filme foi premiado no Festival de Avorriaz. Sua fama nunca parou de crescer, sendo um daqueles exemplares de produções que continuam fascinando expectadores mundo afora. Até hoje, este é considerado um dos melhores filmes de terror de todos os tempos e, apesar de ter outras grandes obras do gênero no seu currículo, certamente é por esse clássico que Craven será sempre lembrado como um dos mestres do horror moderno no cinema.     

Confira o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=Adgp0v_mfTk

A mostra Do Terror à Fantasia: Clássicos dos anos 80 segue por todas as sextas-feiras de outubro, a partir das 18h30min, na Vila das Artes. Segue a programação:

03 de outubro: A Hora do Pesadelo
10 de outubro: O Selvagem da Motocicleta
17 de outubro: Conta Comigo
24 de outubro: Robocop: o policial do futuro
31 de outubro: Fúria de Titãs 
 

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