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Mostrando postagens de setembro, 2013
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A DAMA DO CINE SHANGHAI: MISTÉRIOS NA BOCA DO LIXO Um exercício de metalinguagem, contando uma história com muita dose de suspense, erotismo e referências cinematográficas. Assim pode ser definido o filme mais famoso do cineasta paulista Guilherme de Almeida Prado, intitulado A Dama do Cine Shanghai. Realizado no período crítico da Embrafilme, no final dos anos 80, que culminaria com seu fechamento durante os terríveis anos Collor, essa obra arrebatou milhares de prêmios no Festival de Gramado de 1988, incluindo melhor filme e direção.   Cartaz do filme: um tributo ao noir e à Boca do Lixo. Ambientado em uma São Paulo tipicamente decadente, com seu universo de drogas, violência, homossexualismo, prostituição e hipocrisia social, esse clássico tupiniquim que ficou famoso nos anos 90 ao ser divulgado incessantemente na extinta Rede Manchete, é na sua essência uma grande homenagem ao chamado cinema da Boca do Lixo e seus folclóricos personagens. Para começar a direção é a
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JOSÉ LEWGOY – O olhar mais profundo e onipresente do cinema brasileiro.        “Sou uma mistura de um personagem de Alice, aquele gato que sorri sempre, o Cheshire cat, que vai desaparecendo todo até ficar o sorriso, e o Mersault, de O Estrangeiro, do Camus. Quem quiser saber como eu sou, quem eu sou, leia Alice no País das Maravilhas e O Estrangeiro” (José Lewgoy)             A epígrafe acima revela a toda a complexidade de definir seu autor, o multifacetado ator José Lewgoy. Resumir toda esta carreira pelos seus notórios papéis de vilão, por seu mau humor ou suas opiniões ácidas sobre alguns diretores com quem trabalhara; é um grande equívoco. Justamente para alguém que exercia o ofício de ator com tanta seriedade. Era um ator extremamente técnico, expressivo e criativo. Ao se despedir deste mundo, em fevereiro de 2003, Lewgoy encerrou uma carreira de 56 anos, com mais de cem filmes e dezenas de participações na TV. Em 2009, o diretor Cláudio Kahns lançou o doc
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CLIENTE MORTO NÃO PAGA: UMA HOMENAGEM MAIS QUE MERECIDA. Idealizado pelo diretor, ator e roteirista Carl Reiner e pelo também roteirista e astro do humor Steve Martin, Cliente Morto Não Paga (Dead Men Don't Wear Plaid, 1982) é uma produção que homenageia um dos períodos mais geniais da história do cinema americano e mundial, que foi o da década de 40 e 50, no caso em particular, do gênero policial  noir. Outros tributos foram feitos à esse grande movimento, como os filmes O Homem Que Não Estava Lá (The Man Who Wasn't There, 2001) dos irmãos Cohen; Los Angeles-Cidade Proibida (L.A. Confidential, 1997), de Curtis Hanson e outra grande comédia, O Escorpião de Jade (The Curse of the Jade Scorpion, 2001), dirigida pelo mestre Woody Allen.  O que torna Cliente Morto Não Paga tão fascinante é a maneira explícita e de certa forma revolucionária, com que ele aborda o tema. Para começar temos uma magnífica colagem  de grandes filmes e astros da era clássica interagindo com os

Meu Cine Ceará II

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Segundo e último episódio da saga de um profissional não... "enturmado", digamos assim, e que, por isso, não tem muito a perder, caso não queira tapar o sol com a peneira O "ator" (vá lá!) Marcos Palmeira, homenageado na noite de encerramento do XXIII Cine Ceará, ao receber o troféu Mucuripe das mãos do seu próprio pai (?!), o cineasta Zelito Viana (irmão de Chico Anysio, pai de Betse de Paula e um dos membros da dinastia do saudoso humorista cearense), expressou, como poucos, o que é fazer cinema no Brasil: "O bom é que na minha família ninguém passa fome. Um me chama para atuar, eu chamo outro para dirigir etc." Verdade pura. O último filme no qual ele atua, Vendo ou alugo (BRA, 2012) é dirigido por sua irmã, Betse de Paula. Ele está no lugar certo. E isso não é um jargão. Fazer cinema, no Brasil, quase sempre significa fazer parte de um grupinho. Ser premiado, também. O que se viu na noite de ontem não oferece uma perspectiva animadora para qua
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O TERCEIRO HOMEM: UM OLHAR SOBRE O HOMEM FATAL. Uma pequena cena: uma rua deserta, um gato, um homem assustado, uma luz vinda de uma janela e um rosto no meio da noite, com um sorriso irônico e charmoso. O que poderia ser apenas mais um plano fílmico transformou-se em um dos momentos mais mágicos da sétima arte. Assim temos pela primeira vez a aparição do personagem Harry Lime, o grande responsável por colocar O Terceiro Homem (The Third Man, 1949) como um dos mais cultuados filmes da década de 40.  Realizado pelo inglês Carol Reed, e baseado no famoso roteiro de Graham Greene, esse fantástico thriller de suspense tem como protagonista principal a cidade de Viena, no pós guerra, cuja maior fonte de renda provinha do mercado negro, financiado por ingleses, russos, americanos e franceses. É nesse contexto que surge o escritor Holly Martins, um fracassado escritor de romances baratos, que chega para trabalhar ao lado do seu amigo Harry Lime e descobre que ele foi misteriosament

O meu Cine Ceará

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A partir de hoje inicio uma série com o dia-a-dia da cobertura (out) de um festival de cinema. Não esperem puxação de saco e nem deslumbramento. Já dizia Cristo: "Dai a César o que é de César" (não sei qual é a passagem, capítulo e nem versículo, por favor!). Se não estou sendo um poço de imparcialidade - nenhum jornalista o é - pelo menos meus (poucos) leitores podem ter certeza que não tenho razões para ser parcial. A única coisa que estou ganhando, cobrindo o 23º Cine Ceará, é uma interessante experiência do outro lado da mídia - nada de trocadilhos com o Ghost, por favor! Gabriel Petter - do outro lado da mídia Gostei da minha credencial de imprensa. Foi duro conseguí-la. Soube que tinha direito a uma, mas ninguém me informou sobre o procedimento para pegá-la. Informações desencontradas, distribuição de sorrisos, conversas com uns e outros, enfim, lá estava ela: simples pedaço de papel preso a um cordão de nylon. Eis então que me deparo com meu nome, com um T
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PACTO DE SANGUE: O PROTÓTIPO DOS FILMES NOIR. Durante esse mais de um século de existência do cinema, existem filmes que inauguraram um ciclo na história, seja deflagrando um movimento, seja causando uma revolução, e por isso mesmo são referências para todo cinéfilo e pesquisador que se preze. Há também aqueles que atravessaram gerações e gerações e continuam encantando, mesmo que sua temática já tenha sido extrapolada das mais variadas formas em outras milhares de produções. E também ocorrem casos em que o filme consegue revelar a genialidade de um cineasta a tal ponto, que é difícil analisarmos toda usa obra, sem comparar com seu esse momento chave, que o consagra como grande artista criador. Todos esses elementos citados podem ser utilizados para analisar um filme como Pacto de Sangue. Obra prima, realizada pelos estúdios Paramount no longínquo ano de 1944, esse filme tornou-se ao longo dessas décadas a obra referencial de todo o cinema noir. Entre os diversos aspectos qu

Cigarette burns: coisa velha

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Paulo linhares está de volta. Coisa velha. Espólio do governo Jereissati. Veio para gerir o chamado Porto Iracema das Artes. Coisa velha. O antigo Instituto Dragão do Mar, com outro nome. A mesma proposta: formação para o mercado audiovisual local inexistente. Coisa velha. O mesmo discurso "modernizante", a despeito das estruturas viciadas, da ligação umbilical entre cultura e Estado - coisa mais do que velha por aqui. E o novo filme de Rosemberg Cariri, eterno beneficiário de verbas públicas para suas obras-caviar (nunca ví, nem ouvi, só ouço falar), será lançado no Cine Ceará. Depois, cairá no esquecimento, bem como o prejuízo que sua "obra" causa ao erário público. Nem é preciso dizer que esta é outra coisa velha. Tão velha quanto a politicagem que procura associar velhas personagens com falsas novidades. Tão velha quanto a ilusão de que isso dará em alguma coisa.  Há muito tempo o Ceará anda como caranguejo. A bem da verdade, desde sempre. Ainda mal c