CLIENTE MORTO NÃO PAGA: UMA HOMENAGEM MAIS QUE MERECIDA.


Idealizado pelo diretor, ator e roteirista Carl Reiner e pelo também roteirista e astro do humor Steve Martin, Cliente Morto Não Paga (Dead Men Don't Wear Plaid, 1982) é uma produção que homenageia um dos períodos mais geniais da história do cinema americano e mundial, que foi o da década de 40 e 50, no caso em particular, do gênero policial  noir. Outros tributos foram feitos à esse grande movimento, como os filmes O Homem Que Não Estava Lá (The Man Who Wasn't There, 2001) dos irmãos Cohen; Los Angeles-Cidade Proibida (L.A. Confidential, 1997), de Curtis Hanson e outra grande comédia, O Escorpião de Jade (The Curse of the Jade Scorpion, 2001), dirigida pelo mestre Woody Allen.

 O que torna Cliente Morto Não Paga tão fascinante é a maneira explícita e de certa forma revolucionária, com que ele aborda o tema. Para começar temos uma magnífica colagem  de grandes filmes e astros da era clássica interagindo com os personagens reais da película, vividos pelo protagonista Steve Martin e pela belíssima atriz Rachel Ward. Em seguida, o uso da fotografia em preto e branco, que serve para dar suporte ao projeto. Tudo isso aliado a um roteiro propositalmente absurdo, mas tipicamente característico dos anos 40, com a presença constante de policiais, bandidos, nazistas, femme fatales, e claro, a figura do detetive, encarnada com brilhantismo por Martin.


 Steve Martin impagável como uma caricatura dos detetives dos anos 40

A história contada em off (outra característica fundamental do noir), mostra a morte misteriosa de um rico cientista e fabricante de queijos, cuja  investigação do crime é feita pelo detetive Rigby Reardon, contratado pela filha do morto. A pista maior encontrada é uma lista com os “amigos e inimigos de Carlotta”. Nessa empreitada vários rostos famosos aparecem na telona, dando um charme irresistível à essa obra, como Humphrey Bogart, Bárbara Stanwyck, Bette Davis; Ava Gardner, Ingrid Bergman, James Cagney, Kirk Douglas, Cary Grant e Vincent Price. Uma curiosidade é que o próprio diretor Carl Reiner faz uma ponta marcante no papel de um mordomo.

Algumas cenas do filme merecem destaque e são bastante engraçadas como a da chupada da bala, vista como algo extremamente natural; a ira do detetive ao ouvir a palavra ‘faxineira’ e o confronto final em uma ilha paradisíaca.


Sem dúvida nenhuma, o mais instigante do filme fica a cargo da montagem, realizada pelo editor Bud Moulin, justamente no trabalho de transposição, interligando os vários filmes antigos e ajustando-os dentro da trama atual. No final do longa é interessante perceber a lista de todos os clássicos homenageados, com seus respectivos atores.

Dois atores que foram homenageados no filme: Humphrey Bogart e Bette Davis


Além disso, esse filme marca também a despedida de duas lendas do cinema, que foram geniais na área em que atuaram. Estamos falando do extraordinário compositor húngaro Miklós Rozsa,, que além de ser um dos mais atuantes do noir, fez a inesquecível trilha de épicos grandiosos (Quo Vadis, Ben-Hur, Rei dos Reis) e da fantástica estilista Edith Head, que ganhou 8 Oscars de melhor figurino e recebeu 35 indicações.

Considerado uma das grandes comédias dos anos 80, Cliente Morto Não Paga, merece ser contemplado como um dos mais belos tributos já feitos a uma geração inesquecível de atores, diretores e técnicos que deixou sua marca para sempre na história do cinema e no coração de milhares de cinéfilos, que não cansam de ver e rever seus filmes.

Pierre Grangeiro


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