UM DRINK NO INFERNO: CLÁSSICO DO TRASH MODERNO
Abrindo a mostra O Cinema Pop de Robert Rodriguez, o cineclube 24 Quadros orgulhosamente exibe, nessa sexta-feira, o impagável Um Drink no Inferno, do realizador estadunidense Robert Rodriguez. Pierre Grangeiro aborda um pouco sobre esse clássico do trash moderno no texto a seguir
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Dupla de titãs: Robert Rodriguez e Quentin Tarantino. Imagem: reprodução |
Por Pierre Grangeiro
Ícone absoluto da cultura pop dos anos 1990, Um
Drink no Inferno (From Dusk till Down, EUA, 1996) celebra a parceria de Robert Rodriguez e Quentin
Tarantino, dois cineastas independentes que surgiram praticamente na mesma
época e criaram um estilo de filmar único. Suas obras são cheio de referências
a outros grandes diretores, com um elenco de peso, uma trilha sonora
envolvente, roteiros inteligentes e um frescor na direção invejável, que
fizeram com que fossem cultuados nos quatros cantos do planeta. Só para ter uma
ideia desse sucesso, o filme gerou duas continuações (bem inferiores) e deu
origem recentemente a uma série de televisão, que inclusive pode ser vista no serviço de streaming Netflix. Além disso, essa parceria rendeu mais outros grandes longas, como o
sensacional Sin City – A Cidade do Pecado
(2005), baseado na obra prima do quadrinista Frank Miller.
A película assinada por Rodriguez se baseia na história de Seth
Gecko (George Clooney) e Richard Gecko (o próprio Tarantino) dois irmãos
assaltantes de bancos, que fugiram da cadeia e que, após cometerem alguns
assassinatos, sequestram uma família composta por um pastor (Harvey Keitel) e
seus dois filhos. Durante a viagem chegam a uma boate noturna conhecida como
Titty Twister (“Torcedor de Tetas”, em tradução literal), onde travam encontro com as mais estranhas
criaturas, incluindo um bando de vampiros ensandecidos. Tudo isso vai gerar, é
claro, um festival de sangue, mortes e destruição, que vai culminar em um
curioso final, onde um dos bandidos acaba se tornado o herói da estória, após
salvar os sobreviventes da chacina.
O filme, realizado no auge da carreira de Tarantino, (que além
de atuar, assina o roteiro), traz muito do seu estilo autoral, principalmente
nos diálogos surpreendentes e nas homenagens a outros mestres da sétima arte,
como o grande Samuel Fuller, cujo sobrenome é usado pela família raptada. Sem
dúvida a contribuição do diretor de Pulp
Fiction é imprescindível para o sucesso da obra. Apesar disso, o filme, acima de tudo tem a
marca do cineasta Rodriguez, que já havia realizado outras pequenas joias, como
o interessantíssimo El Mariachi (1992) e sua continuação, Balada do Pistoleiro (1995) . Na sua filmografia temos sempre a
presença de uma direção extremamente competente com ritmo frenético, auxiliada
por uma edição ágil e dinâmica. A sua obsessão pela cultura pop e pela estética
trash é ressaltada a cada movimento de câmera, que presta tributo ao cinema de
Ed Wood, Sam Raimi, Peter Jackson e George Romero, criador e principal nome dos
filmes de zumbi.
Um dos aspectos mais instigantes desse filme é a reviravolta
que se dá na estória, que começa como um típico thriller, cuja
maior característica é o seu caráter de road
movie (filme de estrada) e, na sua segunda metade, se transforma em um grande
terrir (terror com elementos
cômicos), expressão imortalizada pelo lendário Ivan Cardoso, conferindo-lhe assim a aura de um irresistível filme-lixo. Na época, muitos que assistiram ao filme consideraram-no uma brincadeira de mau gosto. Porém, com o passar do tempo, o longa acabou se
convertendo em um autêntico cult movie, que continua fascinando a cada revisão.
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Salma Hayek enlouquecendo a clientela com seu show de strip tease. Imagem: reprodução |
As atuações do longa são bastante emblemáticas,
principalmente pela ilustre presença de Quentin Tarantino, em seu maior papel no cinema,
interpretando um paranoico maníaco sexual. Outra presença marcante é a de
George Clooney, que apesar de ser um ator canastrão, está muito bem como o
charmoso e agressivo criminoso Seth. Esse papel, inclusive foi o responsável por
alavancar sua carreira, tornando-o um dos atores mais requisitados de Hollywood
até os dias de hoje. O grande papel feminino é o da bela Juliette Lewis, que
transmite com leveza uma mistura de inocência e sensualidade. Harvey Keitel,
como sempre, rouba a cena e mostra porque é um dos maiores atores do cinema
mundial. Sua interpretação como o chefe
de família que perdeu completamente a fé depois da morte da esposa e busca a
todo custo proteger seus filhos das garras dos monstros que os cercam é
realmente perfeita, conferindo maior seriedade ao filme. Para fechar essa breve
análise é impossível analisar esse filme, sem lembrar da inesquecível cena da
maravilhosa Salma Hayek (no auge da beleza), vivendo uma stripper perigosa que se transforma em um ser demoníaco após uma dança extremamente erótica. Sem dúvida, os poucos minutos em que ela aparece podem ser considerados os mais picantes e libidinosos da estória. Por tudo isso, vale a pena ver - ou rever - essa obra essencial do moderno cinema estadunidense.
Confira o trailer:
Um Drink no Inferno abre a mostra O Cinema Pop de Robert Rodriguez, que ocorre durante todo o mês de janeiro, na Vila das Artes.
Petter, valeu pelo comentário...
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