DICK TRACY - Uma Adaptação Injustamente Esquecida

Baseado nas famosas tiras de quadrinhos de Chester Gould, publicadas com sucesso entre 1931 e 1977, Dick Tracy ganhou uma bela adaptação em 1990, sendo produzida pela Touchstone Pictures, um dos estúdios da Walt Disney Company. Apesar de não ter sido a primeira adaptação da obra, visto que outros filmes haviam sido feitos na década 40, além de seriados e programas de televisão, essa versão se tornou a melhor expressão fílmica do universo criado pelo lendário cartunista. O filme será exibido nessa sexta, na Vila das Artes, dentro da mostra dedicada ao universo dos quadrinhos no cinema
Maddona e Al Pacino em sequência de DICK TRACY (1990): adaptação fiel aos quadrinhos

Por Pierre Grangeiro

Dirigido e estrelado pelo canastrão Warren Beatty, a produção foi a primeira a reunir um arsenal de estrelas em uma adaptação de uma Hq para o cinema desde o estrondoso sucesso de Superman: o Filme (EUA, 1978). Isso sem falar no custo exorbitante de U$$ 47 milhões e a forte campanha publicitária para a divulgação do filme. A estória se passa durante os anos 1930, era de ouro da máfia ítalo-americana nos EUA. Dick Tracy, um renomado detetive policial, usa todos os métodos possíveis para prender o seu arquiinimigo Big Boy Caprice e sua gangue, formada por vilões grotescamente feios e desajustados. Nesse ínterim aparecem no caminho do herói sua meiga namorada, Tess Trueheart, Kid, um menino de rua que se torna fã de Dick e Breathless Mahoney, cantora extremamente perigosa e sensual. Com esse roteiro bastante simples - um paradigma das produções Disney, o filme foi bastante criticado pelos fãs do personagem, por não mostrar o caráter mais realista dos quadrinhos, onde a violência, a corrupção e o tráfico eram apresentados de maneira bem mais contundente. 

Isso tudo não tira o mérito do longa, que possui várias qualidades. Em primeiro lugar, as brilhantes referências aos filmes de gangster, onde é impossível não lembrar dos mitos do gênero, como Humphrey Bogart, James Cagney e Edward G. Robinson. Inclusive, o melhor  do filme são os vilões antológicos, capitaneados por Al Pacino, em mais uma de suas extraordinárias performances como o inesquecível Big Boy, que rouba para si toda cena em que aparece. Além dele, temos  a presença de outros grandes atores como James Caan (Spaldoni) e Dustin Hoffman (perfeito como o engraçado  Mumbles). Madonna é um show à parte, seja cantando, seja encarnando a misteriosa loira fatal que dá ao filme um toque de erotismo e sensualidade. Sem dúvida é a sua melhor interpretação no cinema. Outro grande achado é o cenário fantástico, todo elaborado em estúdio, em que se tem uma homenagem memorável aos quadrinhos, ao utilizar as mesmas cores usadas na parte colorida das tiras (vermelho, azul, preto, branco, amarelo, verde, lilás e laranja). Além disso, temos algumas cenas bastante curiosas e que dão mais charme à obra, como a de Big Boy citando grandes personalidades (Lincoln, Benjamin Franklin, Platão, Nietzsche), a de Mumbles implorando por água, fora a reconstituição do histórico Massacre de São Valentim.

Apesar de não ter sido sucesso de público e crítica, e hoje ser pouco lembrada, (inclusive pelos amantes dos quadrinhos) a película é uma dessas jóias esquecidas que poderia ser resgatada como um grande exemplar desse período em que a tecnologia digital e o estilo videoclipe ainda não haviam tomado de conta das grandes produções. Ganhador de três Oscar (direção de arte, maquiagem e canção original) e  projetado pelo diretor para ter uma continuação (o que nunca foi realizada por problemas de direitos autorais), Dick Tracy pode ser visto hoje como um marco na adaptação das histórias em quadrinhos, e ao lado de Batman (1989), de Tim Burton, figura como um filme de transição para uma nova era que estava por vir, onde esse conceito passaria a gerar milhões, se tornando sinônimo de cinema blockbuster norte- americano.

Comentários

  1. Pierre, muito bom o teu comentário... Valeu, chapa... Estarei lá na sexta-feira...

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