AS FERAS - A Digna Despedida de Walter Hugo do Mundo do Cinema

Último filme realizado por Walter Hugo Khouri será exibido nessa sexta-feira na Vila das Artes. Produção problemática, o filme foi lançado seis anos após as filmagens, em decorrência de supostos atritos entre Walter e o produtor Aníbal Massaini Neto, o que se reflete em alguns aspectos do longa, ainda assim uma obra que não desmerece em nada a carreira de um dos mais completos realizadores brasileiros de todos os tempos

As Feras: filme problemático de Khouri

Último filme de Walter Hugo Khouri, As Feras (BRA, 1995) possivelmente foi uma das maiores dores de cabeça do realizador paulistano. Irregular desde o início – foi rodado em 1995, mas lançado apenas em 2001 –, esse é um trabalho que não trai, à primeira vista, a mão do diretor que desde o final dos anos 1990 enfrentava dificuldades para filmar. Produzido pelo lendário Aníbal Massaini Neto – que atuava ao lado de Khouri desde a década de 1980 – e contando com o habitual time de atrizes tão lindas quanto canastronas, o longa retoma uma espécie de guerra dos sexos embasada pelo confronto do machismo contra o lesbianismo.

Paulo Cintra (Nuno Leal Maia) é um professor de Psicologia que mantém uma relação conflituosa com sua ex-aluna, Ana (Claudia Liz, no auge da beleza), uma aspirante a atriz – tal como Claudia, ex-modelo que encetava os primeiros passos na arte dramática – que é descoberta por Mônica (Branca de Camargo), produtora teatral que monta uma encenação de Lulu, popular ópera de Alban Berg. Paulo não concorda com a nova carreira da amada e os dois têm uma violenta discussão. Ao segui-la até o teatro, o professor se encontra com Mônica e se defronta com o seu passado. Eles são primos em segundo grau e partilham do conhecimento de Sônia (Lúcia Veríssimo, estonteante), prima de ambos, e por quem Paulo nutriu obsessiva paixão na adolescência. Ocorre que Sônia, que vivia um tórrido relacionamento com uma francesa (vivida pela competente Monique Lafond) nunca correspondeu ao sentimento do primo mais jovem, e o trauma desse amor mal-resolvido o segue desde então. Nesse mesmo ambiente, ele trava relação com Wilson (Luiz Maças, extraordinário), único homem da companhia e que carrega consigo o trauma de ter perdido a namorada para uma amiga da mesma.

Desenrolando-se entre o espaço teatral e o subjetivo de Paulo, através de uma narrativa em flash back, o enredo do filme não deixa nada a dever ao texto afiado de Khouri. Não obstante, por conta das dificuldades enfrentadas quando da produção - dizem que por conta de divergências entre Walter Hugo e Massaini Neto -, As Feras não é um filme que deve ser incluído entre as melhores obras de Khouri. Ainda assim, não desmerece em nada a exitosa carreira do realizador paulistano, fora de dúvida um dos poucos profissionais da sétima arte a conseguir manter a coerência em relação à própria obra, ao mesmo tempo em que se mantinha constantemente realizando películas. Proeza para poucos no cinema nacional.

As Feras será exibido nessa sexta-feira, finalizando a mostra O Cinema Segundo Walter Hugo Khouri, promovida e realizada pelo cineclube 24 Quadros, na Vila das Artes.

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